Uma das teorias científicas mais fascinantes – e polêmicas – é a que diz que as espécies sofrem, ao longo de sua evolução, mudanças na sua aparência provocadas por mutações genéticas causadas por alterações no meioambiente. Essa, por exemplo, seria a explicação para a cor da pele dos humanos. Nossos primeiros antepassados tinham pele escura para se proteger da forte intensidade dos raios de sol do continente africano, onde surgiu a espécie. Ao migrar para regiões mais frias, onde o sol era mais ameno, sofreram um processo de adaptação, que clareou a pele para que ela absorvesse melhor os raios solares benignos. Bom, se havia dúvidas a respeito dessa suposição, agora não há mais. Pesquisadoras da Universidade de Chicago descobriram o mecanismo molecular responsável por essa mudança evolucionária.
"Pela primeira vez, nós conhecemos o mecanismo molecular que explica como organismos que sempre tiveram a mesma morfologia desenvolvem de repente novas características que os ajudam a se adaptar a mudanças ambientais", diz Susan Lindquist, professora de Genética Molecular em trabalho publicado no último número da revista Nature. A responsável por esse mecanismo é uma proteína chamada Hsp 90 (de heat shock protein, proteína do choque térmico). É essa proteína que faz com que os órgãos e membros nasçam no lugar certo. "É por causa dela que você tem duas mãos e dois pés em vez de quatro patas", explica Lindquist.
Pode-se dizer que a Hsp 90 é uma proteína que protege as outras. As proteínas são compostos orgânicos responsáveis pela existência da vida. Quando são expostas a um calor excessivo elas perdem sua capacidade de fazer o metabolismo, isto é, de realizar as reações químicas. É aí que entra em ação a Hsp 90. O que não se sabia é que ela também tem a capacidade de regular o desenvolvimento das células a ponto de alterar suas formas. Lindquist e sua colega Suzanne Rutherford conseguiram provar essa capacidade da Hsp 90 ao reduzir a quantidade dela no organismo da drosófila, a mosca da fruta. Ao fazer isso, anomalias genéticas, como pernas nascendo no lugar de antenas, apareceram repentinamente.
A conclusão das cientistas americanas é de que essas mutações já estão contidas, escondidas, no código genético. E quem controla quais devem entrar em ação e quando é a Hsp 90. Sem a quantidade normal dessa proteína "mestre" o organismo perde o controle de seu arsenal genético e começa a disparar mutações a torto e a direito. "Isso significa também que, quando o ambiente induz a uma mutação e ela é benéfica à sobrevivência do organismo, ela permanece na população e é passada de pai para filho", afirma Lindquist.