Segundo o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as Seitas, recém-publicado na França há cerca de 200 delas, com 300 mil adeptos. No Japão muita gente crê em Nostradamus e vários gurus prevêem o fim do mundo para 24 de agosto. Depois de Shoko Ashara e dos ataques de gás sarim no metrô de Tóquio, a polícia aprendeu a levar delírios a sério.
Nos Estados Unidos, o Apocalipse é dado como certo por multidões e tem torcidas organizadas. A maioria concorda que alguns afortunados serão poupados por intervenção divina. A dificuldade dos crentes será localizar o Salvador entre os quase 1.200 profetas auto-aclamados, só nos arquivos do instituto Millennium Watch, que pesquisa os milenaristas. Para reduzir a confusão, conheçam algumas das tendências apocalípticas:
Eco-Apocalipse — "Os furacões que têm destruído a região central dos Estados Unidos são anjos enviados pelo Senhor para punir os homens. Eles são os anunciadores do Apocalipse", garantiu o profeta negro Rawhab, na semana passada. Ele estava sobre uma caixa-palco na Broadway, num dia apocalíptico: os termômetros marcavam 33° à sombra. "São sinais do Armageddon", disse Rawhab. Ele comanda com mão-de-ferro a seita Twelve Tribes of Israel, atração turística em Manhattan. Propõe que nenhum branco sobreviverá às hecatombes e guerras raciais vindouras. E quem discordar experimenta ali e agora um pouco dos efeitos da futura guerra. Cortesia dos fiéis de Rawhab.
Concorda com essas idéias Gordon Michael Scallion, de New Hampshire. Ele é um médium que lidera a seita Earth Changes (mudanças na Terra). Crê na profecia de Scallion sobre violentos tremores no planeta a partir de 2000. "A Terra é um ser vivo. Os seres humanos são como micróbios que a destroem. Haverá uma reação violenta", diz Scallion. Ou seja: a Terra nos sacudirá como um cachorro faz com suas pulgas.
Messiânicos — O carismático David Koresh, líder do culto Branch Davidian, levou seus seguidores ao fim dos tempos. Ao pé da letra. Em 19 de abril de 1993, seus apóstolos morreram no incêndio de seu templo em Waco, Texas, depois de confrontos com a polícia. Existem outros dizendo ser a encarnação do Cristo, mas o mais comum são profetas da segunda vinda do Messias. Em pleno Mississippi, ocorre um estranho ecumenismo. O reverendo pentecostal Clyde Lott, uniu-se ao rabino ortodoxo Chaim Richman – de Israel – para perpetrar uma vaca sagrada. O bom reverendo está usando todos os seus conhecimentos empíricos de genética para criar um bezerro sem nenhuma mancha ou pinta e totalmente vermelho, como os que eram sacrificado no Templo de Jerusalém – quando este ainda estava em pé. Todo mundo sabe que para a segunda volta do Messias será necessário que o Templo de Jerusalém seja reerguido, em sua terceira versão. Ali as cinzas de um bezerro vermelho cremado serão usadas nos rituais. Como o rabino Richman acredita que o Messias judeu não virá sem a restauração do templo, a união dos dois religiosos foi inevitável. Deixaram para depois disputas sobre qual dos messias chegará primeiro. E eles finalmente conseguiram, depois de cinco anos de tentativas, gerar a legítima Apocalypse Cow (a vaca do Apocalipse).
O problema é que o endereço exato do Templo de Jerusalém é hoje ocupado pela Mesquita de Omã – o Templo da Rocha, um dos locais sagrados dos muçulmanos. Judeus e cristãos fundamentalistas cogitam de resolver isso com dinamite. O que nos leva aos problemas do local da vinda messiânica.
Jerusalém – Calcula-se que existam hoje em Jerusalém cerca de 500 cristãos fundamentalistas conspirando para apressar sangrentamente a vinda do Messias. "Eles planejam executar atos violentos nas ruas de Jerusalém no final do ano", disse o general Elihu Ben-Onn, da polícia israelense. "Esta gente acredita que assim trará Cristo de volta à vida", relata. Nem todos que vão à Terra Santa, é claro, são facínoras. Como antecipação da derradeira batalha entre o bem e o mal, que ocorrerá no final dos tempos, Chuck Missler, da pacífica Coeur d’Alene, no Estado de Idaho, leva multidões para os locais onde o pau vai comer. Organiza excursões a Israel, enfocando o Apocalipse. São cruzeiros marítimos, com escala na ilha de Patmos, onde São João Evangelista teria escrito a parte do Novo Testamento que revela o Apocalipse. E mais: "Nós passamos pelo vale do Armageddon, em Israel, e as pessoas podem sentir as vibrações cada vez mais fortes do lugar", contou o próprio Chuck. Um dos pontos altos do cruzeiro é o baile de máscaras, em que os convidados têm de se vestir como personagens bíblicos. "É o tipo de atividade que a gente incentiva", alegra-se o comandante da polícia israelense.
ET vem nos salvar – Também para ufologistas e crentes nos extraterrestres, o Apocalipse vem. A diferença é que o Messias é verde: o salvador é extraterrestre. Pensando assim, os membros do culto Heaven’s Gate surpreenderam a nação em março de 1997. Eles acreditavam que atrás do cometa Hale Bopp, visível naquela data, vinha uma enorme espaçonave para salvar uns poucos eleitos. O líder da turma, Marshall Applewhite, 65 anos, convenceu 39 seguidores a cometer o suicício, como etapa necessária para a viagem de salvação.
Desgraça informática – O medo do vírus apelidado de Y2K está levando multidões de americanos a preparar verdadeiras fortalezas, bem abastecidas e armadas. Por causa dessa paranóia, por exemplo, as rações desidratadas (do tipo MRE – usada pelas Forças Armadas americanas, e com preços no mercado de US$ 69,95 para pacotes de uma dúzia) tiveram um aumento de 1.500% nos últimos 20 meses. Muita gente está se unindo em comunidades belicosas e que adotam táticas de "sobrevivencialismo" – a arte de sobreviver sem depender de ajuda externa. É o caso de Bob Rutz, 67 anos, que montou uma comunidade em Kingston, no Arkansas. Junto da mulher ele comanda uma fazenda-fortaleza de 700 acres, onde 100 famílias se estabeleceram em lotes de três acres cada.
Grande parte dos "sobrevivencialistas" acreditam não apenas no vírus Y2K, mas também na supremacia da raça branca. Imaginam que durante a guerra civil que se seguirá à parada dos compudadores, as diversas raças vão se digladiar. Na mais antiga destas comunidades, chamada Elohim City – em Muldrow, Oklahoma –, o fundamentalista cristão, racista e profeta Robert Milar ensina que haverá uma invasão asiática da América. Negros, hispânicos e judeus também se juntarão para acabar com a raça branca. Será a guerra de seis anos, começando no ano 2000. Em 2006 Jesus se revelará e Elohim City viverá um milênio inteiro de paz e prosperidade. Só com caucasianos. Na mesma linha está a World Church of the Creator. A organização ficou famosa depois que um de seus membros, Benjamin Nathaniel, matou e feriu negros, judeus e asiáticos no último dia 4 de julho. Para estes, a raça é uma religião, sendo que os brancos descendem de Abel e as outras etnias são herdeiras do sangue de Caim. O que Benjamin fez foi apenas um trailer da ação final. Ted Daniels, do Millennial Institute, acredita que a seita, na mira da polícia, tem estabelecidas dezenas de comunidades-fortalezas no interior dos Estados Unidos. Até dezembro vão derramar mais sangue. É, como se vê, o fim do mundo…
O costureiro-profeta – Baseado nas profecias de Nostradamus e de uma beata francesa, Paco Rabanne previu que no dia 11 de agosto a estação espacial MIR vai cair sobre Paris carregada de ogivas nucleares. As explosões matarão 20 milhões de pessoas. O Gers, região do centro da França onde é produzido o famoso foie-gras, também será destruído. "Eu estava na beira do Sena quando tive uma visão. Centenas de pessoas queimando vivas e correndo para todos os lados nas ruas de Paris. Os gritos eram tão aterradores que eu tive de tapar as orelhas. Muitos se jogavam no Sena, onde continuavam a queimar", descreveu o costureiro-profeta. "Os sinais que anunciam o drama são o trovão e uma cruz branca sobre Paris, cujo centro será vermelho. Quando vocês virem esses sinais, fujam! No primeiro dia ainda será possível escapar. No segundo vocês serão prisioneiros e no terceiro vão morrer. Então fujam! Eu imploro, fujam!", foi o apelo que ele fez pela revista L’Evénement.
Segundo Rabanne, o Apocalipse está marcado para o dia 11 porque será "o maior eclipse do século" e vem acompanhado de uma conjunção astral ainda mais inquietante. Além disso, invertendo a data 1999, temos 666, o número da Besta, próximo ao 1, o número de Deus. "É o enfrentamento do Cristo e do anticristo." O costureiro acredita que cumpre uma missão. "Meu verdadeiro nome é Rabaneda-Cuervo, ou fatião de pão corvo em espanhol. O corvo é um pássaro sagrado enviado para anunciar as guerras." A Maison Paco Rabanne, de má vontade, desmentiu o fechamento no dia e desconversou. Sabe-se, no entanto, que Paco Rabanne deu férias aos funcionários em agosto e recomendou que fossem para longe.