O que se sabe a respeito do homem é espantosamente pouco, se comparado com o que se sabe sobre o mundo que nos cerca. A genética, o sistema glandular, a vida das células, a circulação, vão aos poucos sendo explorados e a cada passo constata-se o quanto ainda há a ser explorado. No que se refere à mente, central elétrica de que depende tudo mais no corpo, muito pouco se tem descoberto. Há muitos séculos, entretanto, que o homem é intrigado pelos mistérios que há em si e nos seus semelhantes. Os fantasmas que o assombram, por exemplo, são velhos como a humanidade e parecem escapar a toda pesquisa e investigação.
A mitologia greco-romana está povoada de fatos sobrenaturais, a Idade Média foi pródiga em fenômenos de feitiçaria e antes, muito antes, as civilizações primitivas viviam assombradas com o sobrenatural. O homem moderno tem ouvido falar de castelos e casas assombradas, de operações feitas por gente rude a ponta de faca, de mesas que se movem e transmitem mensagens, de homens simples que falam em línguas que nunca aprenderam, de objetos que parecem surgir do nada, de vozes e manifestações que eriçam os cabelos aos mais céticos e fabricam seitas e religiões. O mistério sempre esteve entre nós, mas só agora vamos despertando para o seu significado.
Mesa falante
Na metade do século passado tornou-se elegante freqüentar as mesas falantes, que faziam muito sucesso entre intelectuais e gente de sociedade. Era assim como jogar bridge ou fazer uma estação de águas. Ia-se às sessões para ser visto, em torno de uma mesa onde um copo, ou outro objeto, deslocava-se sob os dedos dos presentes de uma letra do alfabeto para outra. No final vinha uma mensagem, que muitos atribuíam aos seus mortos e outros interpretavam como proveniente de um grande morto.
Como tudo que está em voga, as mesas falantes eram quase sempre pura mistificação. Mas havia por trás disso uma constante verdadeira, um fato nunca desmentido pelos que quiseram desmascarar o que imaginavam fosse só uma farsa. Em 1858, com a codificação do espiritismo como doutrina, trabalho de Alan Kardec, o assunto ganhou extraordinária notoriedade.
Kardec, francês, discípulo de Pestalozzi, era educador e veio a interessar-se pelos fenômenos paranormais. Seu verdadeiro nome era Léon-Hipolyte Dénizart Rivail. Fenômenos isolados, até então considerados mais pitorescos que indicadores de uma outra realidade, começaram a ser estudados com seriedade por um pequeno grupo que, por sua vez, não era levado a sério pela ciência oficial. Nessa primeira fase, os fenômenos ganhavam freqüentes conotações religiosas.
O físico Oliver Lodge, o químico William Crookes, o naturalista Wallace e outros homens de ciência, apesar da oposição geral, dedicaram-se à análise dos fatos que todos podiam constatar. Algum tempo depois veio a fase dos grande médiuns. A palavra significa "meio", veículo através do qual um espírito pode manifestar-se, e como médiuns são conhecidos até hoje, pelos leigos e pelos espíritas, os possuidores de dons paranormais. Os grande médiuns espantaram ainda mais um século que se gabava de seu racionalismo. Florence Cook, Kluski, Margery, Marthe Béraud, Ejner Nielsen, os irmão Rudi, Willy Scheider, foram alguns desses nomes.
Estranhas substâncias surgiam do ouvido ou da boca dos médiuns, objetos moviam-se à sua frente sem qualquer toque humano aparente, vozes eram ouvidas, a chamada "escrita automática" fazia a sua aparição. Há fotos espantosas desses fenômenos. Numa delas, a médium Margery apoia a cabeça a uma mesa e de sua boca sai uma substância branca e compacta, de cerca de meio metro de comprimento. Era o ectoplasma. Passado o transe, a substância sumia sem deixar vestígios.
Fantasmas
As casas assombradas não têm sido observadas com o mesmo interesse pelos estudiosos de parapsicologia. O sensacionalismo jornalístico criado em torno dos fenômenos ditos fantasmagóricos afugenta os estudiosos sérios do assunto. Esses casos de assombração são relatados desde as eras mais remotas e contribuíram muito para a criação de cultos.
Entre povos mais primitivos há referências a determinados lugares, onde visões e perturbações inexplicáveis foram relacionados à bruxaria e forças sobrenaturais. O filósofo ateniense Atenódoro viu-se às voltas com fantasmas que só deixaram de incomodá-lo quando ele descobriu um cadáver insepulto entre os tijolos de uma parede e o fez enterrar imediatamente.
Plauto, em sua comédia O Fantasma, trata de uma casa assombrada. O direito romano preocupa-se com os efeitos das assombrações no direito de propriedade. As leis inglesas até hoje cogitam dessa hipótese, dispondo sobre desvalorização e desapropriação de casas em que se manifestem fenômenos sobrenaturais. Ernesto Bozzano estudou a fundo os fenômenos da assombração, tendo reunido 532 casos considerados irrefutáveis, dos quais boa parte era devida aos Poltergeister, fenômenos objetivos considerados paranormais. Flammarion, Carington e o major Tizané publicaram trabalhos relacionados com casas visitadas por fantasmas.
Na Inglaterra são tão comuns as casas e castelos assombrados que algumas pessoas anunciam sua locação ou venda mencionando o fato, uma vez que naquele país os fantasmas são sinal de tradição e nobreza. Há algum tempo os jornais mencionaram os fenômenos inexplicáveis ocorridos na residência da artista de cinema Elke Sommer.
Em Itabira, Minas Gerais, duas moças chamaram a atenção dos estudiosos de parapsicologia. Parece que todos os fenômenos que interessam àqueles estudiosos eram passíveis de acontecer às moças. A imprensa divulgou o assunto com os equívocos e exageros de costume, falando inclusive numa falange de demônios que teria invadido a cidade mineira…