Mergulhadas na crosta terrestre, formas de vida inimagináveis ocupam rochas aparentemente estéreis. "Se a vida pode proliferar nesses locais, por que não em outros planetas, pergunta Stephanie Pain. Se o inferno é algum lugar desconfortável no interior da Terra, uma coisa é certa: existe pouco espaço para as atormentadas almas humanas
Amaior parte do espaço é ocupada por estranhas formas de vida que apreciam calor, altíssimas pressões e uma dieta escassa. Se pudéssemos "descascar" o planeta, esvaziar os oceanos e investigar em profundidade sua crosta, poderíamos descobrir um mundo novo e incrível: um planeta dentro do planeta.
Uma negra biosfera dentro da Terra pode muito bem conter mais vida do que a existente no mundo ensolarado e arejado aqui fora. Os microrganismos que vivem nas profundezas não são muito diferentes daqueles que habitam a superfície, mas sua existência muda radicalmente a percepção do interior da Terra como um imenso domínio sem vida, onde reinam agentes químicos, apoiados por imensas forças físicas – temperatura e pressão.
Esses curiosos organismos, com suas caprichosas estratégias de sobrevivência, podem estar relacionados com a formação de reservas de óleo e gás natural. Além disso, suas estranhas maneiras de lidar com as profundezas podem auxiliar-nos a localizar formas de vida em outros planetas – não na superfície, mas no interior.
David Balkall, microbiologista da Universidade do Estado da Flórida (EUA), estima em mais de 10 mil espécies diferentes a população de bactérias das profundezas do solo. Entretanto a comunidade dessas regiões não inclui apenas representantes do reino Monera. Protozoários flagelados também são encontrados, "sugerindo a existência de cadeias alimentares complexas, com protozoários alimentando-se de bactérias", segundo Bill Ghiorse, da Universidade de Cornell. Seu colega de universidade, Tom Gold, declara: "os habitantes das profundezas podem ser os responsáveis pela formação das reservas de petróleo e gás.
Ao contrário do que habitualmente se acredita, animais e plantas do passado não devem ter relação com a formação de tais reservas". Outros cientistas não vão tão longe, mas sugerem que as bactérias podem, de fato, ter algum papel nas reações envolvidas na formação de gás e petróleo.