Um novo estudo revela que uma “colcha de retalhos de antigas rachaduras de lama bem preservadas” na superfície de Marte sugere a possibilidade de vida extraterrestre no passado. Em 2021, o rover Curiosity da NASA capturou imagens das formas poligonais nas encostas do Monte Sharp, um pico com 5 quilômetros de altura na Cratera Gale – a grande depressão onde o Curiosity pousou pela primeira vez em 2012 e tem explorado desde então. As formas, que geralmente possuem cinco ou seis lados distintos, datam de aproximadamente 3,8 bilhões a 3,6 bilhões de anos atrás.
Inicialmente identificadas como rachaduras de lama, o que já era uma evidência de que Marte foi um planeta muito mais úmido no passado, os pesquisadores realizaram uma nova análise das marcações. O estudo, publicado em 9 de agosto na revista Nature, revelou que essas rachaduras foram formadas durante ciclos de umidade e secura, semelhantes aos ciclos sazonais da Terra, algo que até então não se sabia ocorrer em Marte.
Essa é a primeira evidência tangível de que o clima antigo de Marte tinha ciclos regulares de umidade e secura semelhantes aos da Terra”, afirmou William Rapin, autor principal do estudo e cientista planetário no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. “Mas ainda mais importante é que os ciclos de umidade e secura são úteis – talvez até necessários – para a evolução molecular que poderia levar à vida.”
As rachaduras de lama foram descobertas em uma região acima de um depósito de argila, que já foi o leito de um antigo lago, e abaixo de uma área rica em sulfatos, que são deixados para trás quando a água seca. Isso sugere que as rachaduras de lama secaram várias vezes durante sua formação, indicando que foram criadas em um período em que o nível de água no lago subia e descia continuamente. Essa descoberta também explica por que essas rachaduras têm uma forma poligonal em comparação com as rachaduras em forma de T encontradas anteriormente. Conforme os mesmos tipos de rachaduras se formaram repetidamente, elas se transformaram em uma forma mais complexa.
Esses ciclos de umidade e secura são uma possível explicação para o surgimento dos compostos orgânicos, moléculas contendo carbono e outros elementos que são encontrados em todos os organismos vivos, de acordo com os pesquisadores. Condições em constante mudança podem alterar continuamente os produtos químicos disponíveis no ambiente, favorecendo reações químicas nas quais polímeros, ou cadeias de moléculas, se transformam em compostos orgânicos, como os ácidos nucleicos, que são os precursores do DNA.
Essa descoberta oferece um processo natural que não apenas pode explicar como esses compostos orgânicos foram criados, mas também como eles podem ter “promovido a origem da vida”, afirmou Ashwin Vasavada, cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA na Califórnia, que não esteve envolvido no estudo. Essa descoberta dos ciclos de umidade e secura revela um novo aspecto fascinante da história de Marte e nos aproxima de entender melhor as possibilidades de vida extraterrestre no planeta vermelho.