As discussões em torno da data exata da passagem do milênio são puramente terrestres. Primeiro, porque essa contagem tem por base um evento religioso ….segundo, porque um ano é o tempo que a Terra demora para dar uma volta completa ao Sol – 365 dias. Ou melhor, 365,2564 dias. Por isso, um ano terrestre é muito diferente de um ano marciano ou venusiano.
Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, leva 88 dias a completar a sua órbita à volta da Estrela. Vênus demora 224 dias, Marte 697 dias, e Júpiter 11,9 anos terrestres. O ano de Saturno dura 29,5 anos dos nossos, o de Urano 84, e o de Neptuno 164.
Se Plutão fosse habitado, a passagem de ano comemorar-se-ia a cada 248,6 anos. E se os homens de Plutão usassem a data do nascimento de Cristo para contar o tempo, estariam ainda no ano oitavo após o seu nascimento.
Se o ano é definido usando como referência o movimento do planeta à volta do Sol, já os meses terrestres contam-se tendo em conta os movimentos da Lua. É por isso que os nossos meses não têm um número de dias igual ao longo do ano – são irregulares, como ela. A lunação – o tempo que separa duas voltas da Lua em conjunção com o Sol – foi escolhida para medida do tempo por ser o ciclo mais fácil de observar.
O homem ainda não possuía dispositivos para medir o tempo, e ela já estava no céu, na sua dança, mudando de lua nova para quarto crescente, lua cheia e quarto minguante. Uma lunação demora, em média, 29,5 dias. Mas o mês lunar varia, na realidade, entre 29 dias e 6 horas e 29 dias e 20 horas. Daí a necessidade de adaptar o mês lunar ao mês do calendário.
Se nem para a Terra a Lua determina meses exatos, que sentido faz pensar em usar um tipo de contagem semelhante, específico do nosso planeta, noutros planetas do sistema solar – se estes, um dia, forem colonizados? Como funcionaria um sistema de contagem baseado na Lua em Marte, que tem dois satélites naturais – Phobos e Deimos ? Ou em Júpiter, que tem 16? Levar-se-ia em conta todas as luas, apenas as quatro principais ou uma delas?
Esta é uma questão retórica, uma vez que Júpiter é um planeta gasoso, sem condições para ser habitado. Já a sua lua Europa é um satélite natural com muito interesse para os cientistas, que pensam que a sua superfície poderá estar coberta de gelo. Se um dia o homem descobrisse condições para a habitar e Europa fosse colonizada, seria necessário pensar num novo calendário.
Num exercício de imaginação, Robert G. Aiken, diretor do Lick Observatory, defendeu a adoção do calendário mundial (terrestre), simulando uma conversa com um amigo marciano. Nessa conversa, esse amigo imaginário expunha uma proposta para um calendário marciano, semelhante à proposta de calendário mundial que existe, na Terra, há décadas, e nunca foi adaptada. Na versão marciana, o calendário mundial tinha sempre 668 dias nos anos ímpares e 669 dias nos anos pares, tendo ainda, de dez em dez anos, um ano com um dia extra – um feriado fora do calendário. Como a inclinação do equador de Marte no plano da sua órbita é muito semelhante ao da Terra, o planeta também tem quatro estações por ano. Segundo este calendário, essas estações teriam sempre um número fixo de dias. Nos anos ímpares cada estação teria 167 dias. Nos anos pares, a Primavera, o Verão e o Outono teriam 167 dias, enquanto o Inverno teria mais um – ou seja, 168.
Na conversa com o seu amigo marciano imaginário, Robert G. Aiken ouvia-o dizer que não percebia por que os humanos não simplificavam as coisas e optavam pelo calendário mundial fixo. Se calhar, a resposta mais honesta seria dizer-lhe que nem todos os humanos gostam da rotina e seria aborrecido saber que todos os anos começam a um domingo, todos os Natais calham a uma segunda-feira e que: quem nasceu a um dia de semana estaria condenado, para todo o sempre, a nunca celebrar o seu aniversário ao sábado. Afinal, somos apenas humanos… :)
1 comentário
uau adorei o documentaria e falei para todos sobre oq aprendi com ele :)